quarta-feira, 28 de maio de 2014

Projetos em busca de tempos mais simples

Startups de carona e hospedagem incomodam setores tradicionais da economia no mundo

Carlos Plácido Teixeira
Colunista - Radar do Futuro - Diário do Comércio

Dona de um aplicativo que possibilita a usuários cadastrados oferecer ou ganhar caronas, com valores inferiores aos cobrados pelos taxis, a Uber, presente nas grandes cidades mundiais, negocia com investidores um aporte de recursos que vai colocá-la na lista das empresas mais poderosas do planeta. Caso as negociações tenham sucesso, ela passará a valer US$ 10 bilhões. Um crescimento considerado recorde, segundo analistas do mercado. Seguindo o mesmo caminho, a Airbnb, dona de aplicativo especializado na oferta de hospedagem, também se prepara para dar um salto em direção ao aumento bilionário do valor de mercado.

A expansão das startups Uber e Airbnb, caminho que outras semelhantes pretendem trilhar, sinaliza um novo tipo de confronto em expansão nos ambientes de negócios. De um lado, prestadores de serviços tradicionais, como taxistas e redes de hoteis, com apoio de governos locais, que também temem a perda de receitas e já colocam obstáculos regulatórios. De outro, as empresas de base tecnológica, criadas por empreendedores que carregam o desejo de inovar e ganhar dinheiro com novos produtos e recebem altas somas de investidores. No centro da disputa, as mudanças de modelos de negocios e os segmentos de consumidores, especialmente os jovens conectados que aderem às inovações.

O cenário se define no conceito e nos efeitos da “economia compartilhada” ou “colaborativa”. O fenômeno, mais um típico da transição do cotidiano social para o ambiente digital, propõe novas abordagem das pessoas com o consumo. Na verdade, uma resposta da população que questiona os atuais padrões de consumo e a qualidade de vida. A inovação mostra as caras para antigas atividades do sistema de produção e consumo, que temem enfrentar crises parecidas com a vivida, no passado recente, pela indústria de música ou pela Blockbuster, ao perder espaço para a Netflix no mercado de vídeos para aluguel.

Estudos elaborados nos Estados Unidos mostram que, atualmente, 9% dos projetos das startups têm, como alvo, projetos da economia compartilhada. Outro indicador, o Google também começa a estender os seus braços para novas ideias. Os investimentos miram um sistema em que grupos de pessoas privilegiam o uso, a busca de facilidades e a conveniência, ao invés da posse de produtos. Os bens compartilháveis podem ser desde um carro até uma furadeira elétrica ou bicicletas.

Para alguns especialistas, integrantes das gerações “Y” e do milênio, com idade entre 18 e 35 anos, são um segmento mais inclinado a aderir a iniciativas focadas em colaboração. Quem vê nesse público um excesso de individualismo contesta a tese. Mas o fato é que esse público tem um relacionamento íntimo com as tecnologias. Membros de famílias pequenas da classe média também têm a maioria das suas necessidades de bens materiais atendidas. Têm maior abertura para pegar carona com pessoas desconhecidas, indicadas por um aplicativo, assim como ocorre nas mídias sociais. Ou de preferir ficar em uma casa de família a ficar em um hotel impessoal.

Ao contrário dos seus pais, que ralaram para comprar casa, automóveis, eletrodomésticos e outros itens de conforto, grande parte dos jovens começa a própria vida profissional bem abastecidos dos bens não essenciais. Além disso, muitos acreditam que os seus pais se sacrificaram demais para conquistar todas as coisas. É plausível acreditar que uma parte da geração ache desnecessário o gasto de tanta energia no consumo.

Ainda mais em um cenário em que cresce o questionamento sobre o futuro da qualidade de vida. Uma dúvida que também motiva pessoas mais velhas, preocupadas com os destinos do planeta diante do excesso de consumo e com a percepção de que houve uma queda na qualidade de vida. Diante do excesso de atividades, da falta de tempo e das cobranças do mercado, membros das outras gerações também podem aderir ao compartilhamento proposto pelo novo modelo econômico. Para elas, é uma volta ao passado, mesmo que com todas as ilusões, para os tempos em que o mundo parecia mais simples.

INDICADORES
Economia colaborativa atrai novos projetos

ACONTECIMENTOS
  • Empresas focadas em negócios colaborativos recebem recursos extras
  • Novos investidores: Google prioriza investimentos em novas ideias
  • Expansão da base de usuários de smartphones
  • Nova geração: conectada e aberta a negócios revolucionários
  • Jovens de classe média e alta renda: necessidade de consumo atendidas
  • Consumidores: buscam novos modelos de compra e uso de produtos
  • Insatisfação crescente com padrões de qualidade de vida

TENDÊNCIAS
  • Expansão do número de projetos
  • Investimentos crescentes em novas áreas de serviços tradicionais
  • Aumento da busca por novos modelos de negócios

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