terça-feira, 6 de maio de 2014

Ambiente adverso valoriza os filtros de informações

Índices de confiança apoiam a tomada de decisões

Carlos Plácido Teixeira
Colunista - Radar do Futuro - Diário do Comércio

Ainda há mais consumidores dispostos a manter ou aumentar os padrões de compra de produtos de alto valor, do que os forçados a cortar o consumo dos mesmos produtos. Quem encontra otimistas na praça é o Índice Nacional de Expectativas do Consumidor (Inec). São conclusões extraídas da pesquisa mensal feita pelo Ibope, sob o patrocínio da insuspeita Confederação Nacional da Indústria. A informação parece surpreendente no momento em que todos os sinais da economia convergem para a contaminação do ambiente com previsões negativas sobre o desempenho futuro da economia brasileira.

Na contabilidade das expectativas, aumento da inflação e do desemprego e a situação de endividamento são os principais fatores de preocupação entre os consumidores. Na ponta do mercado, incluindo empresas e sistema financeiro, especialistas e lideranças denunciam os efeitos de desequilíbrios de contas públicas, baixo crescimento e excesso de intervenção do governo na economia. Números e análises conflitantes ampliam os desafios enfrentados dos gestores para a compreensão dos rumos do mercado de consumo.

Criados com o objetivo de colaborar com o entendimento de empresários e consumidores sobre o momento atual e ajudar a antecipar tendências futuras, os índices de expectativas, como o Inec, da CNI, reforçam a função estratégica das informações. Mas requerem o máximo de atenção na leitura e avaliação de variáveis disponíveis, no contexto marcado por alta complexidade de comportamentos e interesses. Os estudos de monitoramento de vários tipos contribuem para a avaliação do estado de espírito de comerciantes, prestadores de serviços, industriais, agronegócios e consumidores, entre outros segmentos. Os indicadores conquistam notoriedade, mas nem sempre são interpretados com o equilíbrio possível, já que o ideal é impossível.

A importância da extração de dados do momento propicia a convergência entre projeções de Flávio Janones, professor de marketing do Centro Universitário Una, e o economista Leonardo Guerra, membro do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG) chefe da Assessoria Econômica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Para ambos, um representante do setor produtivo e outro da área pública, a economia apresenta números e perspectivas melhores do que os destacados atualmente pelo mercado interno. “Será que os estrangeiros são loucos em investir no Brasil?”, questiona o economista. “Apenas entre janeiro e março, US$ 14,2 bilhões entraram no país em investimentos estrangeiros diretos”, assinala.

Vinculado ao setor produtivo, Flávio Janones reforça a visão otimista quanto ao futuro. “Temos boas perspectivas para os próximos meses”, avalia. Mais que um otimismo momentâneo, o professor acredita em continuidade das oportunidades nos próximos anos. No cenário imaginado, os ambientes de negócios manterão a dinâmica de crescimento pelo menos até 2016. E o envolvimento da população com a Copa do Mundo, em junho e julho, e as eleições de outubro vão manter a economia no mesmo ritmo atual de crescimento.

Para Flávio Janones, o momento é adequado para uma revisão de modelos de gestão das empresas, com o reforço das ações de análise de mercado. “O cenário induz as empresas a produzir análises de qualidade para a identificação das ameaças e oportunidades dos mercados“, assinala.” O monitoramento de mercado é complementar ao planejamento e ajuda a identificar sinais de ruptura, acontecimentos ou evoluções com potencial de criar impacto positivo ou negativo mais para frente”, assinala o especialista, para quem o cenário favorece o investimento em inteligência competitiva ou inteligência de marketing, para dar suporte ao cumprimento de metas comerciais. “O mercado brasileiro precisa se reinventar para que o país continue competitivo e mantenha o foco em produtos que serão utilizados para bens de consumo final”, assinala.

O futuro do consumo retratado nos índices


A salada de indicadores confirma, como unanimidade, hoje, a tendência de queda de todo otimismo. O que não significa, necessariamente, que o pessimismo reine absoluto, pelo menos no momento. Enquanto o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), medido pela Fundação Getúlio Vargas, retrata que, entre os pesquisados, 29,6% são pessimistas e 24,4 são otimistas quanto ao futuro, outros levantamentos ainda demonstram a prevalência de entrevistados capazes de identificar tons azuis no cenário adiante.

A pesquisa de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), da Confederação Nacional do Comércio, registrou, em abril, 125,2 pontos. Uma queda de 0,3% em relação a março e de 4,1% em relação ao mesmo mês do ano passado. O menor patamar desde agosto do ano passado, como consequência do elevado nível de endividamento e do encarecimento do crédito. “Apesar do resultado, o índice mantém-se acima da zona de indiferença, de 100 pontos, indicando um nível favorável”, destaca o relatório do documento.

Ainda de acordo com o estudo, o ritmo lento das atividades econômicas no Brasil vem comprometendo a confiança em relação ao emprego e à renda. “Apesar da desaceleração, a manutenção das condições favoráveis do mercado de trabalho, com baixa taxa de desemprego, deverá sustentar o otimismo das famílias em um nível favorável nos próximos meses”, assinala a entidade. A disposição para o consumo se manteve estável na comparação com o mês anterior, mas houve um recuo de 4,2% em relação ao ano passado. Neste quesito, o índice de 98,2 pontos, menos resultado da série, retrata a consolidação do pessimismo.

O indicador contrasta, entretanto, com dados do Índice Nacional de Expectativas do Consumidor. O Inec ficou em abril com 108,7 pontos, contra 112,1 no mesmo mês do ano passado. Segundo a pesquisa patrocinada pela CNI, apenas 13% dos consumidores pretendem reduzir as compras de produtos de alto valor nos próximos seis meses. Em sentido contrário, 30% pretendem aumentar as compras, enquanto os 58% restantes pretendem manter as compras iguais. O levantamento também indica o descrédito absoluto nas perspectivas de reversão dos aumentos de preços. Nenhum grupo de renda acredita em queda da inflação. A população de baixa renda mostra mais pessimismo com as perspectivas da elevação dos valores produtos nas lojas brasileiras.

O desemprego pesa entre as preocupações constatadas pelos levantamentos. Ainda segundo o Inec, 51% dos pesquisados revelam expectativas negativas, de aumento do desemprego. Em sentido, 16% ainda acreditam em aumento das ofertas de trabalho. Mas nada menos 57% pensam que o cenário atual, de baixo desemprego, não deve ser alterado. O mesmo levantamento aponta para expectativas de melhoria da renda pessoal ou da situação financeira pessoal.


Retrato das expectativas atuais


O que os consumidores esperam do futuro

* Sobre inflação
72% acham que vai aumentar
6% acham que vai diminuir
22% acham que continua igual
Os homens são um pouco mais otimistas que as mulheres

* Sobre desemprego
51% esperam aumento
16% esperam que caia
34% não esperam mundanças

* Sobre renda pessoal
31% esperam aumento
11% esperam queda
34% dos homens esperam aumento
10% esperam queda
13% das mulheres esperam queda

* Sobre situação financeira
26% esperam melhora
15% esperam piora
59% não esperam mudanças

* Sobre compras de bens de maior valor
30% vão aumentar
13% vão diminuir
58% vão manter compras iguais
32% dos que têm curso superior vão aumentar
14% dos que têm até 8ª série vão reduzir

Fonte:
Índice Nacional de Expectativas do Consumidor (Inec)
Ibope/ Confederação Nacional das Indústrias


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