quarta-feira, 4 de junho de 2014

Perspectivas da agricultura no futuro

Evolução tecnológica altera o panorama da produção no campo
Carlos Plácido Teixeira
Editor

A biologia moderna avança a velocidades alucinantes e promete, nas próximas décadas, estabelecer uma base científica e tecnológica radicalmente nova, que vai muito além da atual transgenia aplicada às commodities. Em tempos de pressões por sustentabilidade e dúvidas em relação aos problemas climáticos, previsões sobre a intensidade das mudanças integram o estudo “O Futuro do desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira”, elaborado pela Embrapa para antecipar o cenário dos desafios que serão enfrentados pelo setor nas duas próximas décadas.

O levantamento foi conduzido pela Agripensa, a área de inteligência da estatal. A unidade foi criada com o objetivo de compreender e gerar conhecimentos sobre o impacto das inovações futuras, que requerem a utilização intensiva da informação, como ingrediente para a expansão da produção de alimentos. “A agricultura no País será desafiada por transformações substanciais ao longo das próximas décadas. Esses desafios são, sobretudo, tecnológicos, econômicos, sociais e ambientais”, assinala Elísio Contini, chefe do Centro de Estudos e Capacitação da Embrapa, ao participar, no Diário do Comércio, de um evento que reuniu especialistas em inteligência empresarial.

O estudo reitera a constatação de que os investimentos em pesquisa precisam ser intensificados nos próximos anos para garantir as condições de oferta de alimentos para o país, contribuindo com produtos e geração de receitas. O meio rural será um dos polos afetados, no cenário em que a população urbana tende a ser predominante.

O levantamento mostra a percepção de que “os aumentos na nossa produção agropecuária devem ser obtidos, prioritariamente, via intensificação do uso de áreas já abertas para a produção e pelo aumento da produtividade”, afirma Elísio Contini. Com elevada dependência de conhecimento e tecnologia, a agricultura encara, no período adiante, rupturas aceleradas, em prazos cada vez mais curtos. Assim, o estudo assinala a necessidade de ampliar capacidade de antecipação de riscos, de oportunidades e de desafios e de fortalecer processos coordenados de decisão e ação.

A Agropensa definiu eixos prioritários de impactos que nortearão as ações de pesquisas, desenvolvimento e inovação agropecuária para as próximas décadas. Avançar na busca integral da sustentabilidade, garantir a inserção estratégica do Brasil na bioeconomia, contribuir para a formulação de políticas públicas e apoiar ações para o fomento da agricultura familiar, orgânica e agroecológica são as prioridades estratégicas para a área de pesquisas.

Nações Unidas divulga estudo

A divisão de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU) publicou um estudo a respeito do futuro da sustentabilidade na agricultura e na produção de alimentos. Trata-se do relatório Food and Agriculture: The future of sustainability.

O estudo foi lançado como uma contribuição estratégica para o relatório mais amplo Desenvolvimento Sustentável no Século 21, que será lançado na conferência Rio+20. O documento é fruto de uma consulta a dezenas de líderes ligados ao setor, inclusive diversos brasileiros. Esses líderes apontaram as tendências e prioridades para que sejam garantidos sistemas agrícolas e produção de alimentos sustentáveis nos próximos 20 anos.

De acordo com o estudo há consenso sobre o tema, mas também existem áreas em que há divergências fundamentais. O relatório Food and Agriculture: The future of sustainability destaca a escassez de recursos naturais, energia e insumos como uma tendência para a produção agropecuária, em oposição a outros aspectos alarmantes que têm recebido pouca atenção, como o desperdício ou perda de 30% a 40% do que é produzido e o fato de o comércio atual de alimentos suprir a necessidade de calorias da população humana, contrastando com desnutrição e obesidade.

O estudo também ressalta a necessidade de integrar o uso da terra e os serviços ambientais para a qualidade de vida local e global. Além disso, ele alerta sobre um conjunto de medidas para a adaptação às mudanças climáticas, concluindo que estamos no caminho errado, pois a prioridade deve ser na qualidade da produção e do produto e na distribuição dos alimentos, ao invés do foco exclusivo na quantidade a ser produzida.

Entre outras tendências, o estudo destaca o risco da concentração da produção e da distribuição da comida, ilustrando que metade do que comemos vem do cultivo de arroz, milho e trigo e que um pequeno grupo de empresas domina o comércio mundial de alimentos. Além disso, a mudança na governança, em que a dinâmica entre governos, o multilateralismo, o setor privado e a sociedade civil é muito diferente de décadas passadas, é também foco do relatório.

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